Fome x desperdício de alimentos no Brasil

O Brasil é um país que produz muito alimento, mas, mesmo assim, muitos brasileiros não têm o que comer. Isso ocorre porque enquanto alguns podem comprar em excesso, muitos não podem comprar nem o necessário à sobrevivência. Assim, pode-se afirmar que a fome e o desperdício de alimento formam um infeliz paradoxo na realidade brasileira.

Por um bom tempo, acreditou-se que o crescimento da população provocaria uma crise de fome no planeta, ideia sustentada pela teoria de Thomas Malthus, que acreditava que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética, enquanto a população cresceria em progressão geométrica. Portanto, aquela não conseguiria acompanhar esta.

Atualmente, entretanto, sabe-se que essa teoria é errônea: a produção acompanhou – e acompanha -, sim, a população. Aliás, no Brasil, essa produção chega a superar a quantidade necessária, sendo em 2011 25,7% maior do que seria preciso. Então, por que o problema da fome?

A fome, na verdade, é causada pela má distribuição de renda, o que faz com que muitos não possam ter acesso ao alimento por motivos financeiros, e não naturais. É simples: enquanto poucos têm muito, muitos têm pouco. O desperdício é o mau hábito do rico. A fome é a realidade do pobre.

A boa notícia é que, timidamente, medidas estão sendo tomadas. Nos EUA, por exemplo, criou-se um estilo de vida alternativo que se espalhou para o mundo todo, inclusive o Brasil: é o Freeganismo. Os Freegans boicotam o consumo, para irem de contra aos processos que geram exploração animal, social e ambiental. Por isso, ao invés de comprar, eles vasculham comidas no lixo e reaproveitam as sobras que seriam desperdiçadas em restaurantes e feiras. Saiba mais sobre eles nesta reportagem.

De uma forma menos radical, temos alguns exemplos a nível nacional. Uma delas é a ONG Banco de Alimentos, que, desde 1998, busca alimento onde sobra para entregar onde falta. É como se fosse um “Robin Hood dos alimentos”. Conheça mais do trabalho deles aqui.

Mas a maior novidade do assunto é o “Satisfeito”. Com o objetivo de combater a fome de crianças e o desperdício de alimentos, o movimento tem como representante o apresentador Serginho Groisman e propõe uma ação conjunta entre sociedade, restaurantes e organizações que trabalham pela segurança alimentar de crianças em todo o mundo. Saiba mais no vídeo abaixo:



O debate acerca do desperdício alimentar está tão evidente nos últimos tempos que o PNUMA (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente) dedicou o Dia do Meio Ambiente – 5 de junho – deste ano para reforçar o tema da campanha “Pensar. Comer. Conservar – Diga Não ao Desperdício”, que, como o próprio programa diz: “visa diminuir a enorme quantidade de alimentos próprios para o consumo que é desperdiçada por consumidores e comerciantes”, o mesmo propósito dos movimentos anteriormente aqui citados.

Infelizmente, apesar de tudo isso, ainda falta organização e participação do Governo e de toda a sociedade para que haja um progresso maior. Desse modo, uma proposta de solução à fome seria o combate ao desperdício, garantindo a proteção do insumo* e distribuindo os alimentos que não têm mais valor comercial, mas têm valor nutricional, àqueles que necessitam. Devemos seguir o exemplo dessas organizações, ampliando e reconhecendo suas ações, e devemos, principalmente, promover a educação, para formar cidadãos bem informados e capazes de promover uma mudança cultural. Além disso, é fundamental haver uma melhor distribuição de renda, para garantir o acesso de todos à compra do alimento.

O paradoxo “Fome x Desperdício” é uma realidade, mas pode se tornar apenas um “fantasma do passado”. Precisamos agir, sociedade e Estados juntos, para mudar essa situação. É preciso estar ciente de que para acabar com a fome é preciso acabar com o desperdício. Feito isso, esta nação poderá, finalmente, atingir o equilíbrio necessário ao desenvolvimento econômico e humano.

P.S.: Para quem quiser continuar a discussão a respeito desse paradoxo, indico o curta "Ilha das Flores".

* Insumo se refere a todas as despesas e investimentos que contribuem para a obtenção de determinado resultado, mercadoria ou produto até o acabamento ou consumo final. 

Fonte das imagens (respectivamente): Urbanitários e Gastronomia Descomplicada.

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